Quadros, fotos, jornais, diários oficiais, máquinas antigas, objetos de navegação. Juntas, essas peças, de um acervo inestimável, vão ajudar a contar parte da história da capital amazonense para revitalização do futuro Museu do Porto pela Prefeitura de Manaus. Nessa quarta-feira, 9/3, diretores, técnicos e especialistas em restauro fizeram uma visita ao acervo do antigo Museu do Porto, fechado há mais de 20 anos, e ao próprio prédio que já foi sede da atividade museológica, no Centro.
Os itens do passado guardados em uma sala deverão passar por um minucioso processo de separação, limpeza, higienização e restauro para posterior exposição nas futuras salas do espaço que será recuperado. Um cronograma também foi discutido entre os membros da Comissão Técnica para Implementação e Revitalização do Centro Histórico de Manaus, em especial Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb) e da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult), com a presença da historiadora e professora Etelvina Garcia.
“Essa visita tem a proposta de avaliar o que restou do acervo e o estado físico em que se encontra a primeira construção do porto de Manaus. A chamada Casa de Máquinas, que tinha geração de energia elétrica para alimentar as obras de construção portuária. Na medida que o porto ia sendo finalizado, a movimentação das máquinas ia se alterando. Há muito material que não tem ligação com o museu, uma área que serve de depósito, e que precisará ser retirada. E será preciso fazer o restauro dos equipamentos, o levantamento de todo o acervo e sua restauração. Tudo para que se possa fazer um projeto para este lugar receber um novo museu, com uso da tecnologia, da digitalização e da recuperação desta história de Manaus com o rio”, comentou Etelvina.
O diretor de Planejamento Urbano do Implurb, arquiteto e urbanista Pedro Paulo Cordeiro, explicou que a reunião in loco ajudou a ter conhecimento do acervo disponível e do espaço que será ocupado pelo futuro museu após a reforma. “Observamos que, mesmo depois de tantos anos de abandono, as instalações do prédio estão em boas condições. Será uma intervenção com mais limpeza, restauro do que é necessário para ir à exposição e resgate arquitetônico”, disse.
A historiadora lembrou que este é o lugar do Porto dos Ingleses, mas que não foi o único na cidade, uma vez que as populações indígenas anteriores se movimentavam pelas águas usando o local de embarque e desembarque. Em 1679, a região era habitada pelos índios Tarumãs. “Manaus se originou a partir de um grande cemitério e o porto também. O porto de uma Manaus colonizada já foi uma extensão do porto dos nossos indígenas, usado de acordo com a prioridade da cultura. Manaus é um milagre, produto da água, da floresta e do homem da Amazônia”, destacou a professora.
Por este ponto, que se busca resgatar a história e torná-la novamente pública, Manaus exportava produtos extraídos da terra, como a famosa borracha, e importava de joias aos mais finos tecidos, além de materiais que ajudaram a construir a cena Belle Époque, como o ferro para o Teatro Amazonas.
“No século 20 se fez a construção deste porto. É preciso ter tudo isto da história do Porto dos Ingleses e da história que o antecede, do porto natural que surgiu. É um sonho nosso e estamos trabalhando, cuidando de restaurar o que precisa ser restaurado para depois abrir as portas à sociedade”, ressaltou Etelvina.
Sinergia
Várias mãos unidas para resgatar o patrimônio. É assim que o diretor do Museu da Cidade, Leonardo Novellino, vê os trabalhos para reabilitação do futuro Museu do Porto. “Patrimônio incalculável, não só do ponto de vista material, predial, mas também do patrimônio intangível e artístico, que resgata a memória do que Manaus é. Através do porto chegaram os viveres, o alimento, o pão nosso de cada dia. No período da Belle Époque, chegavam as joias para as madames da época, como as da Maison Cartier, que explodiu mundo afora. Recebíamos produtos italianos, o vinho do Porto, de Portugal, chegavam também a nossa farinha, as frutas, e havia o porto com os portuários e as suas histórias, trabalhadores, carregadores, suas famílias, de tudo o que abastecia o comércio”, lembrou o diretor.
A grande missão nesta intervenção urbanística e patrimonial será de resgatar a memória para contá-la ao público, mostrando a importância das águas, do local de embarque e desembarque em uma imensa viagem ao tempo juntando passado, presente e futuro.
“Muita gente querendo que dê certo, apostando, colocando uma energia positiva. Temos braços fortes, temos mentes brilhantes. Temos a vontade. Vai sair”, completou.